Eu me lembro do dia que posteriormente veio a se tornar o divisor de águas no coração de A. Ela vestiu o seu melhor traje, passou horas de frente ao espelho, se maquiando e se embelezando. Isso tudo só para ele, N.
Até que funcionou (ou foi o que pensamos de início). N elogiou o seu vestido, disse que realçava os seus olhos, lhe deu um beijo na bochecha que a encheu de esperanças. Conversamos nós três, amistosamente, porém a conversa claramente se tornava um diálogo à medida que eu me afastava para dar espaço para eles se aproximarem.
Era hoje. Finalmente. Depois de tantos meses de uma paixão escondida e guardada a sete chaves, A enxergava neste dia a oportunidade de revelar os seus sentimentos.
Como faria isso? Esperaria ele se aproximar ou ela mesma tomaria uma atitude? Afinal, nós mulheres já podemos fazer isso, né? A também poderia esperar o momento em que N estivesse sozinho, para "casualmente" ir até ele, como se não quisesse nada… ai deus, se ele soubesse de 1 ⁄ 3 do que ela sente…
No entanto, naquele dia, N não ouviu A revelar os sentimentos dela (nem em qualquer outro dia). Não depois de Lulu chegar.
Lulu.
N parou de prestar atenção no que A dizia para admirar a chegada atrasada de Lulu na festa. A percebeu a mudança no olhar de N à medida que Lulu entrava, que brilhava fortemente para outra direção. Enquanto isso, A murchava…
É impossível não se encantar por Lulu. Lulu é linda, é adorável, apaixonante. Ilumina qualquer ambiente com o seu jeito cativante, a ponto de todos parecerem hipnotizados pela sua presença. Como A poderia competir com uma sereia?
Por isso, N a deixou para cumprimentar Lulu. Com um longo abraço. E um elogio ao seu vestido. E um carinhoso beijo na bochecha. Mas algo ali parecia diferente em comparação à forma com a qual ele falou com A inicialmente, o que lhe fez perder a esperança.
Depois que Lulu chegou, A percebeu que não tinha mais chances. Percebeu, também, que N estava tão encantado por outra pessoa que não prestaria atenção nela ou em suas palavras: estaria ocupado demais apreciando Lulu para sequer ouvi-la.
Naquele dia, bebeu bastante (ora, era uma festa), mas conseguiu segurar a suas lágrimas até chegar em casa, quando viu em seu celular uma foto dos dois juntos. Olhavam-se e sorriam um para o outro, com uma intimidade e carinho perceptíveis, que A nunca chegou perto de desenvolver com N. Um momento tão particular e especial, gravado para sempre em uma câmera, escancarado para todos verem. Aquilo partiu o seu coração.
Lulu é um anjo, nunca poderia odiá-la. No entanto, desejava não ter conhecido ela ou que o seu caminho não tivesse cruzado o de N.
Será que assim N olharia para A como olha para Lulu? Será que assim se encantaria por A?
Nunca saberemos, assim como N nunca saberá o que A sentia por ele.
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