A flor mais bonita do jardim

Era uma vez a filha da fada madrinha.

Como filha de uma fada madrinha, vivia em busca dos seus poderes mágicos, iguais aos da mãe. Tentava fazer poções, criar varinhas e lia livros de feitiçaria, mas nunca encontrava os poderes. Até que um dia, frustrada por não encontrá-los em lugar algum, a filha da fada madrinha decidiu ser jardineira.

Preservou dois jardins. No primeiro, não percebeu que as flores as quais cultivava tinham espinhos pontudos e logo encheu-se de cicatrizes por conta deles. Apesar de machucá-la, ela os achava tão lindos que não tinha coragem de cortá-los. Em vez disso, decidiu molhar mais as flores para que os espinhos diminuíssem. O excesso de água, porém, fez com que as flores murchassem e a menina teve que desfazer seu jardim, deixando seu solo “ruim” para um novo semeio.

Já no segundo, como o terreno não estava bom para plantio, teve que ser mais cautelosa ao semear as flores. Dessa vez, plantou espécies diferentes e conseguiu, finalmente, criar um lindo jardim. Contudo, ela não queria cometer o mesmo erro duas vezes e, então, decidiu molhar menos as plantas. Molhou tão pouco que elas não sobreviveram. Talvez a filha da fada madrinha estivesse tão magoada por ter se esforçado tanto e falhado com seu primeiro jardim que não pôde se dedicar completamente ao segundo. Por isso, as flores não vingaram e, novamente, ela chorou por não ser capaz de preservar um jardim.

Não foi capaz de encontrar seus poderes, não conseguiu cultivar jardins.... Será que ela estaria destinada a ser para sempre a filha da fada madrinha? Uma camponesa sem mágica, sem encantos...?

Não. Um belo dia, começou a ouvir uma voz incessante que em vez de dizer para ela seguir um caminho, dizia para traçá-lo. E assim o fez.

Demorou um tempo, mas, ao longo da caminhada, descobriu que o que ela precisava encontrar e cultivar estavam, na verdade, dentro dela mesma. Percebeu que seus poderes podiam ser até mais fortes que os da fada madrinha, porque ela não transformava abóboras em carruagens ou ratos em cocheiros. Ela se transformava.

E assim, a fadinha decidiu se tornar a flor de seu próprio jardim. Regada na medida certa, sem espinhos que pudessem machucar os outros. Apenas um pequeno girassol.

Era uma vez a flor mais bonita do jardim...