O carrossel sempre foi a minha atração favorita do parque de diversões.
Tão calmo, tranquilo, sereno… tudo nele me alegrava. Desde as luzes brilhantes até os infinitos giros nos cavalinhos, ao som de uma música que se repetia incessantemente. O que eu mais gostava, entretanto, é que eu não precisava me mover nesse brinquedo. Ele faz todo o trabalho sozinho, enquanto me mantenho inerte e acompanho alegremente suas voltas, observando o mundo passar ao meu redor.
Mas, talvez… Talvez isso não seja suficiente. Talvez eu tenha me hipnotizado pelas luzes do carrossel e me acostumado a uma vida estática, tornando-me medrosa diante de qualquer movimento estranho. Logo eu, que me digo tão resiliente, entorpeci-me depois de tantas voltas e habituei-me a esse brinquedo no meu parque de diversões. Não queria nada de diferente. A montanha-russa, a casa do terror, chapéu mexicano… Eles me aterrorizavam: muito perigosos, assustadores.
O carrossel, por outro lado… com aquelas luzes inebriantes e a música relaxante, mostrou-me uma realidade apaziguante, segura. A cada volta, apresentava-me um mundo cor-de-rosa, protegido de tristezas e corações partidos. Depois de um tempo, porém, parece que ele me protegeu tanto que passei a ter medo até da minha própria sombra.
Hoje, pergunto-me se o carrossel realmente precisa me proteger. Não posso eu mesma proteger-me da inimiga que venho sendo a minha pessoa? Preciso de tanta segurança assim? O que me amedronta tanto dentro de mim para que eu não possa enfrentar sem ajuda?
Estou dando voltas e apreciando a vista há tempos. Toda essa proteção gerou um temor que fez com que eu machucasse não só a mim mesma, como também a pessoas que amo, simplesmente porque não tive coragem de abandonar o carrossel.
O medo não me levou a lugar algum. Nunca levará.
Preciso me enfrentar. Preciso me perdoar.
Parem as máquinas! É hora de mudar de brinquedo.
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