Eu gosto de vinho.
Frequentemente, tenho explorado nomes, cores e tipos diferentes dessa bebida imersa em uma aventura sensorial fascinante.
Conversando com outras sommeliers, concluímos que, de fato, os vinhos mais velhos são melhores. Algo na sua maturação o torna mais saboroso: o balanço entre o tanino preservado e a acidez em um grau efervescente dão prazer aos lábios e aquecem o corpo.
Uma das degustadoras, porém, contestou a nossa afirmação.
Para ela, os vinhos jovens eram preferíveis. Ela gostava do frescor da juventude, argumentando que esses se adaptam melhor às taças e têm uma doçura que o envelhecimento lhes retira. Eles são leves e sua consumação imediata os torna mais simples de se degustar, principalmente quando não se está interessada em conservar a garrafa por muito tempo.
Com as suas ponderações em mente, fui apresentada a um vinho jovem.
De início, estava um pouco receosa em prová-lo, pois preocupava-me ter uma experiência diferente com a qual estava acostumada. No entanto, já conhecia a sua marca de longas datas, sabia da sua origem de qualidade. Além disso, a promessa de uma descoberta deleitável deixava-me animada.
Por essa razão, certo sábado à noite, harmonizando-o com a culinária argentina, decidi abrir a sua garrafa.
Ao aproximar a taça dos lábios, fui imediatamente envolvida por um aroma promissor, o qual formou uma sinfonia de frutas frescas e florais que dançavam no ar. Então, o primeiro gole foi uma surpresa agradável, como um encontro com a juventude vigorosa da bebida.
Em seguida, a cada nota de sabor, foram-me reveladas camadas de complexidade, pouco consideradas por mim, desde as frutas vermelhas até nuances sutis de especiarias. A sua vivacidade era um convite para eu explorar um vasto universo de sensações que nem sempre um vinho envelhecido é capaz de me proporcionar.
Aquela foi a primeira e única vez que tomei um vinho jovem. Não busquei outras garrafas após esse dia, pois apreciei a singularidade da ocasião e optei por deixá-la guardada na adega, permitindo-me manter o momento ímpar.
Na reunião seguinte, com as mesmas sommeliers, o debate sobre a idade dos vinhos novamente foi levantado. Após aquela degustadora reafirmar a sua opinião, eu intervi:
“ Anos e taças de vinho nunca devem ser contados. Mas, às vezes, esses números podem ser inversamente proporcionais...”
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