Eu já tive um amante.
Pois é, Pois é. Durante anos, mantive dois relacionamentos ao mesmo tempo, e, sendo bem sincera, não me arrependo das escolhas que fiz. Amava ambos, não tinha coragem de deixar qualquer um dos dois, porque eles me faziam muito feliz e me completavam à sua maneira. Cada um tinha uma singularidade apaixonante: um me trouxe delicadeza, equilíbrio, postura… já o outro despertou-me certa malícia, com uma confiança que incitava toda a minha ousadia.
Justamente por isso, esse segundo se tornou o meu amante. Enquanto namorava o primeiro, sempre o observava, porém de longe. Ficava encantada com seu jeito tão elegante e destemido, pelo qual todas as meninas sentiam-se atraídas. Ah, mas meu primeiro amor não era menos que isso: pelo contrário! Era tão sofisticado quanto, porém, depois de muito tempo, sinto que a nossa relação esfriou.... Não sei explicar, parecia que ele já não me amava tanto quanto antes. Reclamava do meu corpo, brigava quando eu não fazia as coisas certas, exigia demais de mim… Além disso, chegou um momento em que não estávamos mais no mesmo ritmo, porque eu queria um parceiro com quem eu pudesse me divertir e fazer umas peripécias sem noção, ao passo que ele reivindicava o meu lado sério, alinhado e impecável.
Por isso, quando me apresentaram ao meu amante, eu não pude evitar. Foi amor à “segunda” vista. Ele, sim, me divertia, gostava de mim como eu era e não reclamava das minhas loucuras. Ele era diversão e libertinagem, misturado com certa graça e fineza. Fazia meu coração palpitar, deixava-me ansiosa para encontrá-lo e angustiada quando tinha que deixá-lo (pois é, que amante!).
No entanto, por mais que houvesse mil razões para terminar o meu namoro e, enfim, entregar-me por completo ao amante, eu não tinha coragem de fazê-lo. Ainda tinha aquele apego, o carinho e o afeto que não permitiam que eu fosse embora. Mesmo com aquele jeitão paradoxalmente bruto, não era por mal, era por amor, porque ele queria me ver bem. (e juro que não estou falando isso de uma forma cega!).
Então, decidi manter dois relacionamentos paralelos, que duraram anos e anos. Com eles, aprendi sobre amor, entrega e autoconhecimento. Cada vez que os encontrava, era um aprendizado diferente até que, quando me dei conta, parecia não só estar apenas apaixonada por eles dois, mas, também, por mim mesma, no que eles me transformaram. O amor transmitido por eles tornou-se algo que já nem era mais amor: transfigurou-se em um sentimento maior, talvez sem uma definição certa. Ambos deixaram de fazer parte do meu coração e passaram a ser parte da minha alma.
Contudo, como toda boa história de amor, essa teve um final trágico. Bem, não necessariamente trágico, porém… confuso? Para resumir, quando estava prestes a sair do colégio, como toda adolescente pré-formatura, decidi deixar para trás tudo que fazia parte da “antiga-vida” para conhecer novas pessoas e paixões durante a vida universitária.
Primeiro, terminei com meu primeiro amor, porque meu novo estilo rebelde sem causa já não combinava mais com ele (que, cá entre nós, já estava saturado das reviradas de olhos e da cara emburrada que eu fazia toda vez que nos encontrávamos). Tentei esquecer minha tristeza, focando no meu amante - agora oficialmente namorado - e ainda curtimos um pouco durante o meu primeiro semestre de faculdade. Entretanto, ao longo do ano, conheci uma outra paixão, a qual me seduziu tanto (oh, sim, desculpem-me, no quesito relacionamentos assim, meu caráter é duvidoso) que, no final do ano, pela primeira vez, tive que fazer uma escolha: ou um, ou outro!
Ter que fazer uma escolha dessas, apesar de ser necessária, partiu meu coração. Por insegurança, escolhi a que me traria um melhor futuro e estabilidade (eu adoro coisas estáveis!), ao mesmo tempo em que me deixaria parcialmente satisfeita nos tempos livres. Portanto, escolhi a paixão que conheci na faculdade. Claro, mantive contato com meu antigo amante, com uns flertes aqui e lá, mas nada oficial...
Se eu me arrependo da escolha que fiz? Não! Foi boa, certeira, focada. Eu gosto de onde estou agora e como estou. Por outro lado, frequentemente me vem o questionamento se eu não poderia ter mantido uma relação aberta com todos, de modo que pudesse me apaixonar mais vezes. Será que eu teria tempo para isso? Conseguiria me dedicar a todos os relacionamentos? Meus antigos amores me amariam de novo?
Esses dias, acho que finalmente encontrei a resposta para essas perguntas: Sim, é só eu deixar de procrastinar tanto e me organizar melhor; Pare de se achar, nem são tantos assim; e, quanto a esta última, você nunca vai saber se não tentar.
Verdade, eu preciso tentar. Preciso reconquistá-los. Preciso dizer ao Ballet o quanto eu sinto sua falta e farei de tudo para me amá-lo, da mesma forma que o amei durante anos. Preciso mostrar que eu me importo, que meu primeiro amor nunca poderia ter sido esquecido. E ao Jazz… Meu amante, minha paixão, minha conexão interstellar. Não posso apenas deixá-lo como amante, pois ele é tão substancial quanto o ballet. Preciso que volte para mim, que me ame novamente. Quanto ao Direito, meu romance mais recente… ora, ele terá que aceitar que não sou mais a favor da monogamia!
É isso que eu vou fazer. É isso que eu quero. Podem me chamar de exagerada, mas não posso viver com apenas um dos meus três relacionamentos. Preciso de todos!
Visto meu melhor traje: sapatilha, meia calça e collant. Faço um coque bem preso no meu cabelo. É hora de reconquistar meus dois antigos amores.
2015/2021
Perfeita sempre 💕
Aaaaahhh tava com sdds do seus textos❤️