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dudesiuffo

Noites com Djavan

Esta noite, pouco antes de dormir, parei para ouvir um pouco de música. O modo aleatório me levou a Djavan.

Fechei os olhos e lembrei de você e das nossas noites.

Você pode até pensar que, por não nos encontrarmos mais, eu tenha me esquecido daqueles finais de semana, só eu e você, nos divertindo na sua casa e inventando qualquer esquisitice para passar o tempo.

Eu lembro.

De início, ainda não sabíamos o que éramos. Incerteza e hesitação tomavam o ambiente, nos deixando tensos a cada conversa. A dúvida sobre saber o que você significa para alguém é de afligir o coração.

Por isso, não me esqueço daquela noite em que você me mostrou Djavan. Eu disse que quase não o ouvia e, claro, tive que aguentar uma provocação sobre a minha geração, que não “conhece música de verdade”.

Então, lá, sentados na varanda, com a brisa do vento soprando nossos rostos, o silêncio da noite foi preenchido pelo som de “Outono”.

Você levantou e me chamou para dançar, porque sabe que é o que mais gosto de fazer.

Nossa, como você sabia me conquistar.

Dança lenta, daquelas que a gente dança agarradinho, juntinho. Coloquei a cabeça sobre o seu peito e pude ouvir as batidas aceleradas do seu coração. Então eu te deixava nervosa? Essa constatação me deixou feliz.

Em seguida, você ternamente beijou o meu ombro e disse “Melhor até que bourbon”. Eu ri, talvez por um pouco de alívio, pois, finalmente, por meio da sua dedicatória escondida por trás da música, pude acalmar o meu coração sobre o que eu, você e aquelas noites significavam.

Tudo.

“Meu par de pérolas azuis.”

Sim, eu era sua. E se os olhos são mesmo a janela para a alma, esperava que você pudesse ver a minha também, só para saber que eu sorria por dentro por estarmos juntos.

Não sei quanto tempo se passou, mas dançamos até o outono acabar. Depois continuamos lá, apenas nos movendo de um lado para o outro, enquanto outras músicas tocavam. Já não sabia mais o que saía da caixa de som, nem me importava. Estar com você me fazia esquecer o mundo ao redor, como se tivéssemos criado o nosso próprio mundinho, ali, na sala de estar do seu apartamento, sozinhos num sábado qualquer.

Depois daquela noite, vieram outras e outras, com trilhas sonoras diferentes. No entanto, a “noite de Djavan” pareceu mais importante que todas as seguintes e, justamente, o motivo para estas outras também serem especiais. Foi nela que, finalmente, descobrimos que o sentimento nutrido um pelo outro era recíproco.

Depois de Djavan, pude enxergar todos os sentimentos por trás das palavras que saíam de sua boca. Elas eram sinceras, assim como o seu coração. Não me lembrava da última vez que tinha sentido algo tão profundo assim. E talvez a maneira como me sentia quando você me beijava fosse tão rara que temo nunca mais passar por isso.

Porque não estamos mais juntos.

Me conforta colocar a culpa no destino, que não nos permitiu viver mais noites assim, de música e amor, pois ele tinha outros planos para nós, os quais, infelizmente, não envolviam o outro.

Por essa razão, além das nossas noites juntos, também lembro das minhas noites sozinhas depois de você, e como elas pareceram solitárias, sem graça. No entanto, depois de um período, senti-me mais feliz por ter te conhecido do que por ter te perdido.

Se for para nos encontrarmos de novo, vamos nos encontrar. Gosto de acreditar nisso. No entanto, às vezes, queria poder decidir quando nos veremos novamente.

Será que, um dia, você volta?

Abro os olhos, volto-me para o meu celular e mudo a música que estava escutando antes de dormir. Te espero para ouvirmos Djavan juntos novamente.






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