O dia antes de amanhã

Minhas pernas tremeram quando soube que estava na festa. Senti vontade de vomitar quando te vi. Meu coração acelerou quando o seu olhar encontrou o meu.

Jamais imaginei que pudesse estar aqui. Lembro de dizer que não gostava desse tipo de lugar, dessas pessoas, de estar tão longe da sua casa… Sendo obra do destino ou não, neste dia, quatro festas estavam acontecendo na cidade, e acabamos na mesma.

Devia estar com cara de doente, porque uma menina perguntou se eu estava me sentindo bem, porém não soube responder. Te ver aqui, de forma tão inesperada, depois de meses sem ter notícias suas… um coquetel de sentimentos se misturava em mim junto com as especiarias da gin tônica.

Há pouco menos de um ano, você já tinha beijado todas as linhas do meu corpo, visto as partes mais feias de mim, ouvido segredos que as paredes jamais escutaram e havia sido o gênio dos meus desejos mais loucos.

E agora estava aqui, encarando-me ao longe, como se ainda se recordasse daquela última conversa em seu carro. O seu rosto entrega o fato de que não me esqueceu. Entretanto, não sei dizer se a minha lembrança lhe desperta saudade ou dor. Ou os dois.

A resposta pode ter vindo após uma tentativa de conversa cordial, quando você me puxou para perto. E a minha réplica foi óbvia quando não hesitei em retribuir o seu beijo.

Aí estava a prova de que você deixou mais marcas em mim do que imaginava. Você não estava acendendo um fósforo, simplesmente. Estava jogando fogo na gasolina. Meu corpo queima e essa sensação é familiar, porque é só com você que me sinto assim.

Isso não é bom, mas...

Nossa, como estava com saudade de nós.

Havia um misto de euforia e tensão em nossos sorrisos, os quais demonstravam a incerteza sobre nossa ação. Por essa razão, ao longo da noite, frequentemente perguntamos um ao outro se não era apenas um efeito da bebida e o que aquilo significava.

Quer saber? Não quero saber.

Só hoje, podemos voltar a ser aquele casal que todo mundo falava que - estranhamente - combina, ou imaginar que acabamos de nos conhecer, ou acreditar que estes últimos sete meses jamais existiram. Só hoje, vamos ser quem a gente quiser. Vamos matar a saudade da única coisa boa que restou de nós dois.

Amanhã a gente pensa no depois.

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