“Você, com essa carinha de boneca de porcelana”
“Você namora?”
“Você é uma menina, não é uma mulher ainda, tem muito que aprender”
“Você deveria usar roupas com cores mais sóbrias para não parecer tão menina”
“Você não parece ser o tipo de menina que frequenta esses locais”
“Você é meio careta, né? Não sai muito, não bebe muito… Não sabe aproveitar a vida direito”
“Você não é o tipo de menina com quem eu me relaciono. Prefiro morenas, com todo o respeito”
“Você é muito delicada para ser uma advogada criminalista”
“Você é uma menina, não conhece nada do mundo”
“Você é bonita, mas muito nova. Ficará melhor quando crescer”
"Você é assim, muito racional, muito séria"
“Você é imatura”
"Você imagina, num caso hipotético, se a gente transasse"
“Você que é a estagiária, deveria estar fazendo esse trabalho de capacho aqui, não eu”
"Você não está sabendo se expressar"
“Você não entendeu o que eu quis dizer”
“Minha flor”
“Minha querida”
“Meu bem”
Ainda que me humilhe dessa forma na frente de todos no trabalho, os seus cúmplices o inocentam sob a alegação de que esse é apenas o seu jeito exageradamente honesto, de maneira que só resta a única mulher do escritório silenciar-se.
Ainda que eu volte para casa todos os dias compartilhando a frustração com os seus comentários, sou surpreendida com a acusação de que, na verdade, estou apaixonada por ele, pois estou sempre mencionando o seu nome.
Ainda que o desafie, serei chamada de desobediente e desrespeitosa para com um superior.
Ainda que saia daqui, as más línguas dirão que estou exagerando ou que sou problemática.
Ainda que fale, grite e esperneie, ele sempre voltará para o trabalho no dia seguinte, crente de que os seus comentários estão eivados de uma sinceridade crua, a qual não deve, de modo algum, ser interpretada como constrangimento.
Ainda que eu escreva, tenho que permanecer calada em sua frente.
Não importa o quanto eu diga, as minhas palavras nunca terão a mesma força que as suas, e ele não vai parar.
- Outros jeitos de usar a boca - Rupi Kaur
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