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dudesiuffo

O que não tenho de mais

Sempre acreditei que eu fosse extraordinária. 

Posso até soar prepotente, mas pensava ter nascido para fazer grandes feitos, extrapolar os limites do céu e... Sempre me senti extraordinária. 

Quando chego em casa, porém, e tiro a maquiagem, os monstros que me assombram a noite voltam a me perturbar e lembram quem eu sou: totalmente banal.

Não foi assim que me desenhei. 

Disse a mim mesma que, quando crescesse, finalmente teria a vida que sonhei. Entretanto, cá estou eu, um mês depois do meu aniversário, (ainda) presa numa jaula de paredes cinzentas, defendendo o que não entendo e suportando línguas sujas em meus ouvidos.

Tento olhar pela janela, mas, à minha vista, só vejo crianças mimadas, cujas mães são histéricas demais para entender o que é disciplina. 

As lágrimas tentam sair, mas guardo-as como um segredo e digo que é a claridade que molha os meus olhos, porque sei que eu mesma me coloquei nessa situação. Foram as escolhas erradas que tomei que me levaram a uma estrada paralela. 

E quando eu finalmente pensei que poderia contornar esse caminho, sou jogada de volta ao asfalto, porque desvios extraordinários só aparecem para pessoas extraordinárias.

Apelar a Deus? Rio de mim mesma só de lembrar. Jamais Ele escutaria uma prece de alguém tão trivial, de uma menina comum: Pobre demais para bancar os meus sonhos, e rica demais para ser digna de pena por não conseguir realizá-los.

Ouço vozes me dizerem para não desistir e até sinto-me baixa por estar tão frustrada. É uma chance rara. É claro que seria improvável que eu e tantos outros conseguissem. 

O fracasso alheio me conforta por saber que não sou a única a não ter as conquistas que almejava, porém não o suficiente para me fazer acreditar em mim ou no meu suposto  p0t4nc14l (ugh, odeio essa palavra).

No fim das contas, talvez eu seja só aquele tipo de pessoa que se tornará uma idosa amargurada, ressentindo até o fim da vida as chances perdidas e que poderia ter conquistado feitos extraordinários. 

Entretanto, no fundo, não há nada de extraordinário. Apenas alguém que sonha com um céu que não pode alcançar. E não há nada mais comum do que isso.






PS: ao menos deixem eu me frustrar por um momento.

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