Quando eu era mais nova e dançava nos festivais de ballet, não aceitava dançar menos de cinco coreografias (já dancei 11 uma vez!). Gostava da adrenalina de correr para trocar o figurino de uma dança para outra, de poder voltar ao palco inúmeras vezes num espetáculo de uma hora e meia, de aguardar na coxia a grande entrada para o número seguinte… frases como "não te encontrei nos bastidores" ou "conseguiu comer entre um ato e outro?" eram comuns de se ouvir entre as coxias. Pois é… eu não assistia o festival. Na verdade, nem prestava atenção. Apenas aguardava ouvir o som da próxima música que anunciava a coreografia que eu tinha que dançar. Só me preocupava em esperar a minha deixa para estar no palco novamente.
Depois de anos repetindo esse itinerário exaustivo nos festivais, porém, dancei apenas uma coreografia no espetáculo da semana passada e admito que foi uma experiência diferente, mas não necessariamente ruim.
Se, talvez, isso tivesse acontecido há cinco anos, eu teria achado um completo ultraje dançar só um humilde número. Mas, na semana passada, enquanto ansiava pelo meu momento de entrar no palco, não pude deixar de me sentir aliviada por não ter mais que participar de tantas coreografias assim.
Não me entendam mal. Não recusaria qualquer oportunidade de estar no palco, pois é o meu lugar no mundo e amo dançar. No entanto, quando não estamos tão ávidos para se apresentar à plateia, passamos a valorizar outros momentos que acontecem para além daqueles que aparecem no palco.
Não dancei 5 danças, mas pude ajudar várias meninas mais novas que estavam com essa responsabilidade a se trocarem, pois sabia de cor qual a melhor ordem para retirar o figurino rapidamente. Tranquilizei as minhas alunas, que pela primeira vez subiam ao grande palco do TCA e estavam nervosas. Encontrei e tirei fotos com amigas nos bastidores, conversamos minutos a fio sobre o quanto o espetáculo estava lindo. Ajudei até com maquiagem e cabelo (eu, que não sei nem fazer uma trança em mim mesma!).
Dessa vez, a uma hora e meia do festival foi esgotada com pura calma. Arrumei-me com tranquilidade, fiz meu lanchinho, passei minutos me alongando e aguardei na coxia a minha deixa. Não fiquei triste em ver tantas pessoas no palco e eu aguardando na coxia o meu (único) momento de entrar. Pelo contrário: assistindo o espetáculo todo, às meninas lindas dançarem e às coreografias incríveis que foram montadas, senti orgulho em fazer parte daquela construção e estar nos bastidores para ajudar na montagem daquilo que é visto da fileira A a Z.
Meu corpo poderia não estar no palco, mas a minha alma, de alguma forma, estava lá, e não pude deixar de ficar feliz por saber disso.
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