“É por isso que eu saio com homens, não com meninos.”
Todas as garotas olharam para C, sem entender a que “homem” ela se referia. Sabíamos tudo sobre todas, e, da última vez que tínhamos checado, não havia nenhum garoto em sua lista de namorados que não tivesse impedimento etário para aparecer na revista “Forbes Under 30”.
Então, C, com que homem você saiu?
Ahhh sim, ele.
O Advogado.
Eles se conheceram no escritório e, de início, C não acreditou que ele pudesse se sentir atraído por ela. Nunca achou que homens mais velhos a notassem, pois tem um jeito tímido e quieto em público, que pensava não ser atraente. Não são mais desejáveis aquelas de personalidade forte, que usam vestidos vermelhos? Que homem olharia para uma garota com um rosto tão imaturo?
Ele olhou. E não viu nada de imaturo.
Porque, na verdade, ela não era imatura. Algumas pessoas do escritório achavam que o seu silêncio mascarava uma ingenuidade ou incompreensão, mas não era verdade. C era, possivelmente, a pessoa mais inteligente da sala, porém não fazia questão que os outros soubessem. Deixava os holofotes para aqueles desesperados por atenção. Ela sempre atuou sem ansiar por tanto crédito a si mesma, sem que soubessem quem era de verdade ou da sua capacidade.
Mas ele sabia quem ela era (ou, pelo menos, imaginava saber). Em cada olhar inapropriado trocado nas reuniões, em cada sorriso discreto visto do outro lado da sala, em cada aperto de mão… Sabia quem C era e do que era capaz - em todos os sentidos.
Por isso, o advogado se encantou com ela. Algo na sua juventude, aliada a uma maturidade impressionante e um jeito tão delicado deixavam-o viciado nela, na sua presença. Fora que, com ele, não havia vergonha ou medo, apenas uma sinceridade crua, que ambos adoravam. Pareciam estar desenvolvendo uma paixão arrebatadora, que não podiam revelar a ninguém.
Tinha algo de animador em compartilharem o segredo do relacionamento deles, como se todos ao seu redor fossem tolos por não perceberem o óbvio. A ideia de ser secreto e de que, a qualquer momento, fossem pegos, a incitava. O risco de ser flagrada com um homem mais velho, de forma tão escandalosa, no escritório, era perigosamente instigante.
“Amor contrariado é amor eterno”, alguém lhe disse uma vez. Talvez fosse por isso que a ideia de estar com o advogado fosse mais encantadora que o normal. O que os seus pais pensariam? E as suas amigas? E os seus chefes e colegas de trabalho? Todos até poderiam dizer que aceitavam, mas, no fundo, a julgariam, ela sabe. A ideia de superar todas as barreiras de julgamento parecia fílmica, o que tornava o relacionamento deles ainda mais “romântico”.
Não posso negar que ela o desejava (por essas e outras inúmeras razões que nada tem a ver com a discrição do namoro), mas ele… ele era louco por ela. Falava que a conexão entre os dois era espiritual, transcendental, vital. Já não queriam mais se desgrudar, a ponto de quererem expor o escândalo que viviam.
Nunca, porém, a notícia veio a público.
O advogado recebeu uma oferta para trabalhar em outro estado e partiu. Ele até a convidou para o acompanhar, mas C decidiu não ir. Não quis.
A segunda-feira no escritório foi entediante sem ele, e os dias seguintes também. Eventualmente, aceitou que o seu trabalho lá já era, naturalmente, sem graça, e voltou a sua rotina normal, antes de o advogado entrar em sua vida. Não olhou para mais nenhum outro superior da mesma forma que notou o advogado. Deixou para lá. Tinha recordações suficientes de uma louca paixão. Estava satisfeita, agora, sozinha.
C respirou fundo, enquanto nós aguardávamos a sua resposta sobre que homem é esse com quem ela tinha saído.
“Não foi nada demais, apenas um advogado que conheci no escritório. Nada sério. De verdade. `` - Disse, enquanto escondia o seu sorriso malicioso, que guardava lembranças tórridas do seu amor secreto.
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