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dudesiuffo

Tudo acaba em pizza

Naquela noite, T não esperava encontrá-lo.

Era início de madrugada e estava de pijama por ter decidido ficar em casa em vez de sair (justamente porque não queria ver ninguém). Por isso mesmo, quando sua mãe lhe pediu para pegar a pizza com o motoboy que estava prestes a chegar, não esperava vê-lo.

Ah, se o motoboy não tivesse demorado tanto…

Estava esperando na porta de casa quando o viu. Sentado em um banco, de cabeça baixa ao celular, usando uma bermuda jeans e a camisa do seu time favorito. Era ele. Ela o reconheceria em qualquer lugar.

Há quanto tempo não se viam ou se falavam? Meses? Sim, 6 meses, para ser mais específica.

6 meses que deixaram de ser um só. 6 meses que não ouvia aquela voz, ou sentia o abraço que sempre gostou. 6 meses que não via o seu rosto.

E, no entanto, numa madrugada qualquer de uma quinta feira, lá estava ele, bem em sua frente, com o rosto parcialmente iluminado pelo poste na esquina e a postura familiar de se sentar.

Esperou vir a saudade, o amor secretamente guardado, a raiva por não se falarem há tanto tempo… Porém, nada veio.

Sentiu, contudo, uma melancolia, que trouxe a memória das lembranças felizes que viveram juntos. Ah… tantas histórias boas e engraçadas, das quais não mais podiam contar porque remetiam à lembrança um do outro. Era doloroso demais.

Será que apenas naquela noite, não poderiam reviver essas aventuras através das suas recordações?

T poderia ter gritado e chamado seu nome, ou atravessado a rua e lhe cumprimentado, ou corrido até ele e lhe dado aquela batida de ombro típica que faziam.

Está tudo bem com você? Precisa de alguma coisa? O que está fazendo aqui?

Não fez nenhuma dessas perguntas, nem sequer chamou pelo seu nome. Não teve coragem. T apenas permaneceu sentada no banco na porta de sua casa, espiando aquela pessoa que um dia já havia sido especial para ela.

Não soube dizer quanto tempo se passou. Ficou lá pelo que pareceram horas, tendo devaneios secretos sobre sua antiga relação com aquele menino tão distante. Alguém finalmente gritou o nome dele. Avisou que já estava na hora de eles irem para casa.

Ele levantou o rosto para cumprimentar o amigo. A princípio, não havia visto T, pois estava escuro. Mas, à medida que se aproximava, ele podia enxergar mais nitidamente aquela menina que um dia já havia sido especial para ele.

Estavam a dez metros um do outro, o reconhecimento agora era mútuo.

Ele poderia ter dito seu nome ou atravessado esses dez metros e lhe cumprimentado, ou corrido até ela e lhe dado aquela batida de ombro típica que faziam.

No entanto, ele a olhou, sorriu e deu um breve aceno de cabeça. O último que ela veria em anos.

Naquela madrugada, enquanto comia pizza com a sua mãe, T a perguntou:

“Mãe, já contei da vez que eu e L nos perdemos na praia?...”






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